Transições de Carreira: Perdas, Medos e Descobertas
- Sergio Duarte

- 20 de jul.
- 2 min de leitura
Um olhar humanista sobre o movimento interno por trás das mudanças profissionais

Mudar de carreira é mais do que uma decisão prática — é, na maioria das vezes, um processo emocional profundo, repleto de perdas, medos e descobertas. Para a Psicologia Humanista, cada transição desse tipo não se resume a uma troca de função, empresa ou setor. Trata-se de um movimento existencial, onde o indivíduo entra em contato com quem tem sido — e com quem deseja ser.
As perdas são inevitáveis. Ao deixar um caminho profissional, mesmo que não mais satisfatório, abre-se mão de uma identidade construída: o título, o status, a familiaridade, os vínculos, o sentimento de competência que se acumulou ao longo do tempo. Há um luto simbólico que precisa ser vivido — não apenas pelo que se deixa, mas por tudo o que aquilo representou em termos de pertencimento e segurança.
Junto das perdas vêm os medos. O medo do desconhecido, de falhar, de se arrepender. Medo de perder relevância, de não conseguir se sustentar, de ser julgado. A Psicologia Humanista compreende o medo não como fraqueza, mas como sinal de que algo importante está em jogo. É o corpo e a mente dizendo: “Estamos atravessando uma zona de transformação”.
Mas é justamente nesse atravessamento que surgem as descobertas. Quando nos autorizamos a sair do conhecido, somos chamados a escutar partes de nós que estavam silenciadas. Descobrimos novas competências, novos interesses, novas formas de nos relacionar com o trabalho — e com nós mesmos. O medo cede espaço à curiosidade. E a rigidez, à possibilidade.
A abordagem humanista acredita que cada ser humano possui dentro de si um potencial inato de crescimento e realização. Esse potencial, no entanto, não se desenvolve plenamente em ambientes que abafam a autenticidade. Por isso, muitas transições de carreira começam não fora, mas dentro — no momento em que uma pessoa reconhece: “o que faço já não expressa mais quem eu sou”. Esse reconhecimento, ainda que desconfortável, é também um convite à congruência.
Mais do que buscar uma nova função, muitos que mudam de carreira estão em busca de coerência interna. Querem se alinhar com seus valores, dar mais sentido ao que fazem, viver com mais inteireza. E isso exige coragem: não só para recomeçar, mas para se permitir não saber, para experimentar, para se reconstruir com mais verdade.
Ao acolher as perdas e os medos com gentileza, e ao se abrir para as descobertas com presença, a pessoa que transita de carreira não está apenas trocando de lugar no mercado — está se reaproximando de si mesma. E esse reencontro pode ser uma das experiências mais transformadoras da vida adulta.
A Psicologia Humanista, ao valorizar a liberdade, a escolha e a experiência subjetiva, oferece um caminho amoroso para essas transições. Um caminho que reconhece a dor da mudança, sim, mas também celebra o poder da escuta interior e a força que brota quando alguém decide viver uma vida mais fiel à própria essência.



