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Identidade, Valor e Dignidade em Momentos de Crise

  • Foto do escritor: Sergio Duarte
    Sergio Duarte
  • 20 de jul.
  • 2 min de leitura

Um olhar humanista sobre como permanecer inteiro quando tudo ao redor se fragmenta

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Crises — sejam elas profissionais, pessoais, existenciais ou coletivas — têm o poder de abalar profundamente a estrutura sobre a qual construímos nossa identidade. Elas retiram o chão conhecido, colocam em dúvida certezas e nos confrontam com perguntas que, por vezes, evitamos: Quem sou eu sem aquilo que faço? Qual é o meu valor quando não estou produzindo? Onde está minha dignidade em meio à instabilidade, à perda ou ao fracasso?

Na Psicologia Humanista, essas perguntas não são sinais de fraqueza, mas portas de entrada para uma escuta mais profunda de si. Momentos de crise nos desnudam. Eles nos forçam a olhar para além dos papéis que ocupamos, além das máscaras que vestimos. E nesse olhar mais honesto — muitas vezes dolorido — reside também a possibilidade de reconexão com o que é essencial.

Vivemos em uma cultura que associa valor pessoal à utilidade, à produtividade, ao desempenho. Por isso, quando atravessamos crises que nos retiram desses lugares — como a perda de um emprego, um adoecimento, uma transição forçada ou mesmo o esgotamento emocional — é comum que a autoestima desmorone. Começamos a duvidar de nossa relevância, de nossa identidade, de nossa dignidade.

A abordagem humanista, no entanto, sustenta que o valor de uma pessoa não depende do que ela faz, mas de quem ela é. Todo ser humano possui uma dignidade intrínseca, inviolável, apenas por existir. E é justamente em tempos de crise que precisamos recuperar essa verdade: sou alguém, mesmo quando não estou em pleno desempenho. Sou alguém, mesmo quando estou frágil.

Crises, ainda que desconcertantes, nos abrem a chance de nos reconstruirmos com mais verdade. Elas nos convidam a sair do automático e revisitar aquilo que realmente importa: quais são os valores que me sustentam? O que dá sentido à minha vida, além das funções que desempenho? Quais vínculos me mantêm em pé quando tudo parece ruir? Esse reencontro com o próprio eixo é, muitas vezes, o primeiro passo para a transformação.

A Psicologia Humanista oferece, nesses momentos, um espaço de acolhimento, escuta e validação. Em vez de buscar respostas prontas ou soluções rápidas, ela propõe um caminho de presença e respeito ao ritmo singular de cada ser. Porque em tempos de crise, mais do que conselhos, as pessoas precisam ser reconhecidas em sua dor — e também em sua potência.

Preservar a dignidade em momentos críticos é permitir-se sentir, é honrar os próprios limites, é não se reduzir à lógica da performance. É lembrar que o valor de um ser humano não está condicionado ao sucesso, mas ao simples fato de ser. E que, muitas vezes, é justamente na travessia mais difícil que descobrimos recursos internos antes adormecidos — força, sensibilidade, fé, criatividade, compaixão.

A crise pode nos despir de papéis, status e certezas. Mas também pode nos devolver algo muito mais profundo: a inteireza de sermos quem somos, com todas as nossas imperfeições, fragilidades e dignidade intacta.

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