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Desumanização no Ambiente Corporativo e o Resgate da Autenticidade

  • Foto do escritor: Sergio Duarte
    Sergio Duarte
  • 20 de jul.
  • 2 min de leitura

Uma reflexão humanista sobre trabalho, essência e dignidade

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A Psicologia Humanista tem como uma de suas premissas centrais a valorização da experiência subjetiva, da liberdade pessoal e da busca por sentido e autenticidade. A partir dessa perspectiva, olhar para os ambientes corporativos contemporâneos é, muitas vezes, deparar-se com um paradoxo: espaços criados por seres humanos que, em nome da eficiência, frequentemente ignoram a própria humanidade de quem neles trabalha.

A desumanização no ambiente corporativo ocorre quando a pessoa é reduzida ao seu desempenho, quando seu valor é medido exclusivamente por métricas de produtividade, metas entregues e resultados palpáveis. Nesse processo, emoções são vistas como obstáculos, pausas como fraqueza, e relações humanas como distrações. O trabalhador deixa de ser alguém com história, sonhos, limites e desejos, e passa a ser uma engrenagem, funcional e substituível.

Essa lógica produtivista, profundamente enraizada em modelos hierárquicos e mecanicistas, desconsidera um princípio fundamental da abordagem humanista: o ser humano é um fim em si mesmo, e não um meio para objetivos externos.

Quando um ambiente de trabalho exige máscaras constantes, silencia emoções, promove competitividade extrema e priva o indivíduo de autenticidade, o que ocorre é um lento esvaziamento existencial. As pessoas se desconectam de si mesmas para se ajustarem a expectativas externas. Elas deixam de ser autoras de suas trajetórias e passam a cumprir papéis que não as representam. O custo disso é alto: alienação, adoecimento emocional, burnout, apatia, perda de sentido.

Resgatar a autenticidade no ambiente corporativo, então, não é um luxo ou uma utopia idealista — é uma urgência ética e existencial. É permitir que as pessoas se expressem com verdade, que tragam sua criatividade, que errem sem medo, que estabeleçam relações baseadas na confiança e na escuta. É criar espaços de trabalho onde o afeto e a produtividade não sejam excludentes, mas complementares.

Na visão humanista, esse resgate passa por três pilares fundamentais:

 

1.     Reconhecimento da subjetividade: ver o colaborador como uma pessoa inteira, com emoções válidas, valores próprios e necessidades singulares.

2.     Ambientes psicologicamente seguros: espaços onde as pessoas possam se expressar sem medo de julgamento ou retaliação, e onde a vulnerabilidade seja vista como potência, não como fraqueza.

3.     Coerência entre valores organizacionais e práticas reais: não basta falar de “cuidado com as pessoas” em discursos institucionais se, na prática, se promove excesso de carga, controle rígido e relações impessoais.

 

Mais do que nunca, é preciso repensar o modelo de trabalho que estamos sustentando — e que, por vezes, tem adoecido tantos. A Psicologia Humanista nos lembra que o trabalho pode (e deve) ser um espaço de expressão de quem somos, um lugar de realização, vínculo e contribuição. Mas, para isso, é preciso coragem para humanizar os processos, flexibilizar os modelos e colocar a vida no centro das decisões.

Porque, no fim, nenhuma meta vale mais que a saúde de quem a persegue. E nenhuma empresa será verdadeiramente próspera se apagar, pelo caminho, a humanidade de quem a constrói.

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