Narcisismo: entendendo as necessidades humanas por trás do comportamento
- Sergio Duarte

- 20 de jul.
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O termo “narcisismo” tem sido amplamente utilizado, muitas vezes de forma pejorativa, para descrever pessoas consideradas egoístas, frias ou manipuladoras. No entanto, sob a luz da Psicologia Humanista, esse comportamento não é visto como um defeito moral ou uma falha de caráter, mas como uma expressão distorcida de necessidades humanas legítimas que não foram reconhecidas ou atendidas ao longo da vida.
Para a abordagem humanista, todos os seres humanos nascem com uma tendência inata ao crescimento, à autenticidade e à conexão. No entanto, quando o ambiente falha em oferecer acolhimento emocional, escuta empática e validação afetiva, a pessoa pode desenvolver estratégias defensivas para sobreviver à dor do abandono, da rejeição ou da negligência emocional. O que se manifesta como “narcisismo” — necessidade constante de admiração, dificuldade em lidar com críticas, aparente frieza emocional — pode, na verdade, ser a tentativa desesperada de proteger um self ferido, inseguro e invisibilizado.
Ao contrário do senso comum, muitas pessoas com traços narcisistas não se amam demais — mas muito pouco. Muitas vezes, elas aprenderam que precisavam esconder sua vulnerabilidade para serem aceitas, que só teriam valor se fossem admiráveis ou impecáveis. Assim, constroem uma imagem grandiosa de si mesmas como uma armadura, um escudo contra o medo profundo de serem vistas como inadequadas, fracas ou indignas de amor.
A escuta humanista propõe que, antes de julgar, é preciso compreender. O psicólogo humanista não vê o narcisismo como algo a ser combatido, mas como uma linguagem emocional a ser decifrada, um convite à escuta compassiva das feridas que se ocultam por trás da máscara. A relação terapêutica torna-se, nesse sentido, um espaço seguro onde a pessoa pode, pouco a pouco, baixar suas defesas e ser vista como realmente é — com suas dores, medos e desejos autênticos.
Nesse processo, o terapeuta oferece aceitação incondicional, autenticidade e presença — elementos essenciais para que o indivíduo, muitas vezes acostumado a se relacionar por meio do desempenho ou do controle, possa experimentar uma forma nova de vínculo: baseada na confiança, na reciprocidade e na verdade emocional.
A cura, portanto, não se dá pela crítica ou pela correção, mas pelo reconhecimento da dignidade humana que existe por trás do comportamento narcisista. Quando a pessoa começa a se sentir verdadeiramente compreendida, ela pode se reconectar com suas emoções, desenvolver empatia genuína pelos outros e, sobretudo, construir uma relação mais honesta e amorosa consigo mesma.
Despatologizar o narcisismo, na visão humanista, é reconhecer que por trás da necessidade de ser admirado existe uma necessidade mais profunda: a de ser amado como se é — e não como se aparenta ser.



