Borderline: desmistificando a condição e promovendo a compreensão
- Sergio Duarte

- 20 de jul.
- 2 min de leitura

O Transtorno de Personalidade Borderline, muitas vezes cercado por estigmas, mal-entendidos e julgamentos precipitados, exige uma escuta mais cuidadosa e um olhar mais humano. Para a Psicologia Humanista, que valoriza a singularidade do indivíduo e sua capacidade de transformação, o diagnóstico não define a pessoa. Ele é, no máximo, um ponto de partida para compreender uma história de dor, sensibilidade e, muitas vezes, de sobrevivência.
A pessoa com traços borderline carrega um sofrimento psíquico intenso, caracterizado por uma instabilidade emocional profunda, relações interpessoais tumultuadas, sentimentos crônicos de vazio e, por vezes, comportamentos autodestrutivos. No entanto, por trás dessas manifestações, o psicólogo humanista busca algo mais: a história viva, as feridas emocionais, os afetos não acolhidos e os vínculos frágeis ou rompidos.
Muitos indivíduos rotulados como “borderline” viveram experiências de abandono, rejeição ou invalidação emocional ao longo da vida. Nesse contexto, a instabilidade emocional não deve ser vista como disfunção, mas como uma resposta intensa a um mundo que foi, em algum momento, inseguro e imprevisível. O que se expressa como impulsividade ou “drama” pode, na verdade, ser um grito legítimo por conexão, segurança e amor.
Desmistificar o transtorno significa, antes de tudo, abandonar a lente do preconceito e adotar uma postura de empatia genuína. Significa compreender que as explosões emocionais não são manipulativas, mas formas desesperadas de expressar uma dor que não encontrou palavras ou escuta. É reconhecer que o sofrimento borderline não é uma escolha — é uma vivência muitas vezes solitária e incompreendida.
Dentro da abordagem humanista, o terapeuta não se posiciona como “especialista que conserta”, mas como um companheiro de jornada. Ele oferece presença, aceitação incondicional e autenticidade — elementos fundamentais para que o indivíduo se sinta digno de existir, mesmo em sua vulnerabilidade. Nesse espaço seguro, o cliente borderline pode, pouco a pouco, reconstruir a confiança nos vínculos, reorganizar sua identidade fragmentada e encontrar modos mais saudáveis de lidar com suas emoções.
Promover a compreensão da condição borderline também significa valorizar as potências presentes nesses indivíduos: sua sensibilidade aguçada, sua profundidade afetiva, sua capacidade de amar intensamente. Essas qualidades, quando reconhecidas e cultivadas em um ambiente terapêutico acolhedor, tornam-se forças de crescimento e cura.
Assim, ao invés de rotular e afastar, o psicólogo humanista se aproxima. Ele não trata apenas “o transtorno”, mas encontra, por trás de cada crise, uma pessoa em busca de significado, acolhimento e possibilidade de florescer. Porque, para além dos rótulos, existe sempre um ser humano — digno de cuidado, escuta e esperança.



